As 7 pragas do Brasil moderno, de Joaci Góes
prefácio de Carlos Ayres Britto e orelha de José Nêumanne Pinto
Livraria Cultura do Salvador Shopping, no próximo dia 18, quarta-feira, das 16 às 21:00 horas
“O BRASIL não é para amadores”, disse uma vez o maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. O gênio Tom viveu o bastante na capital mundial dos amadores, o Rio de Janeiro, para vivenciar isso como poucos. E, quando o fez, também tinha passado por fugaz estada na pátria dos mais profissionais de todos, os Estados Unidos da América. Pois bem, se há um profissional nesse Brasil errático e sem rumo em que nascemos e teimamos em sobreviver é JOACI GÓES, o autor deste livro.
Nossa República do Pixuleco é também a pátria de gênios da literatura, como Machado de Assis, e da sociologia, como Gilberto Freyre. Teve sua certidão de nascimento assinada por um gênio da raça, o cientista e político José Bonifácio de Andrada e Silva, e seu atestado de maioridade lavrado pelo hábil Joaquim Nabuco. No entanto, não foram esses titãs que a construíram tal como a conhecemos hoje, depois da nódoa da escravidão na Colônia e no Império, que ainda nos marca até hoje, e do enriquecimento vertiginoso e espetacular a partir da Primeira República. Ao contrário do que predisse Stefan Zweig, este não é o país do futuro, mas o paraíso das oportunidades perdidas.
Assim como o Egito dos sonhos decifrados pelo hebreu José, sete pragas nos assolaram, e o baiano Joaci tem a competência, a vidência e a paciência de enumerá-las. Somos fruto de escolhas erradas na educação de má qualidade, que garante a permanência da desigualdade profunda e injusta. Com vigor e coragem, e num estilo sóbrio e elegante, este ensaio diagnostica o erro de não dar ao pobre um programa de saúde com a eficácia do que assegura ao gado vacum. Ou seja: a terra de Jeca Tatu, de Monteiro Loba-to, produz grãos e carne em condições de competir nos mais exi-gentes mercados do mundo. Para isso, combate a aftosa com êxito, enquanto seu cidadão ainda hoje morre de fome, febre e fadiga.
A violência ancestral dos coronéis de baraço e cutelo é repe-tida na tirania dos quadrilheiros que semeiam a insegurança com a tácita cumplicidade das milícias armadas pelo público urbano para assediá-la. A impunidade delas ameaça a vida dos cidadãos ho-nestos que sustentam a súcia de canalhas que assaltam nas ruas e nos gabinetes, e têm garantida uma omertà nojenta e inviolável. Essa máfia corporativa, acoitada pelo sistema partidário permissivo e impermeável, se sustenta na ignorância, que garante sua re-produção interminável. Assim como favorece a improdutividade que não permite ao país disputar em condições de igualdade a guerra do comércio internacional, a não ser na agroindústria, mercê de uma arrogante ignorância gerencial e da infraestrutura indigente.
Se for incapaz de entender o recado incômodo expresso neste livro, o Brasil será também uma causa perdida.
JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, poeta e escritor