Quem quiser ver como funciona o governo Lula de verdade está convidado a comparecer às ruas próximas do prédio da Superintendência da Polícia Federal (PF) na Lapa, em São Paulo. Ali se formam diariamente filas quilométricas de pretendentes a um documento sem o qual nenhum cidadão brasileiro pode deixar o País: o passaporte. Sem dar a mínima para as exigências da demanda, aquela repartição burocrática decidiu autocraticamente que só atenderá a 300 pessoas diariamente para requerer ou receber o disputado papel. A exemplo do que ocorre nos postos de atendimento da Previdência Social, só consegue ser atendido quem chega muito cedo, pois são distribuídas as senhas apenas para o número determinado e não é raro alguém ir mais de uma vez até conseguir ser admitido no interior da repartição.
A PF tem protagonizado megaoperações resultantes de investigações em torno de crimes de colarinho branco, que não envolvem muito risco pessoal de seus agentes e dão excelente retorno publicitário. Muito menos risco de vida, contudo, correm seus funcionários encarregados dessa função burocrática e não conseguem cumpri-la de forma eficiente. Assim o governo Lula se move: pão e circo para o povo e estresse para os cidadãos fora do alcance da Bolsa Família, obrigados a enfrentar a brutalidade, a morosidade e a ineficiência de servidores que para nada servem. Os tiranos comunistas não permitiam que os ditos soviéticos saíssem do país e os chineses precisam de passaporte para viajar dentro das fronteiras nacionais. No Brasil não se proíbe. Em nome da democracia popular, apenas se dificulta a locomoção.
© Jornal da Tarde, terça-feira, 1º de maio de 2007.