Os jornais estão cheios de lorotas sobre o cacife que o PMDB teria adquirido com a vitória consagradora obtida nas urnas nos últimos pleitos municipais. Quem faz esse tipo de conta se esquece de uma lição básica da aritmética elementar, segundo a qual não se somam laranjas com bananas. Como há uma miríade de municípios no País, é o caso de acrescentar outros elementos muito diferentes entre si: estão indo à feira com um balaio imenso de laranjas, peras, abacaxis, melões, mamões e muitas frutas mais e somando-as como se todas fossem de um tipo só. Aí se cometem dois erros de cálculo: o primeiro é que a rigor nenhum eleitor decidiu votar em algum candidato à prefeitura de seu município por indicação de um chefe partidário; e o outro é que cidadão nenhum de cidade alguma subordinará sua escolha estadual ou federal ao voto por ele dado nas eleições deste ano.
Para ilustrar este argumento basta apontar para o episódio mais relevante no País inteiro. Mesmo que o cético grego Diógenes vier a São Paulo procurar, com sua lanterna e a atenção que a tradição lhe atribui, um eleitor fanático do DEM, terá dificuldade para encontrá-lo: o voto foi dado ao gestor Kassab, e não ao ex-PFL, certo? Certíssimo! Mais difícil ainda será tropeçar em algum paulistano que assegure hoje que votará daqui a dois anos num candidato do partido vencedor – este, aliás, dificilmente indicará alguém para disputar a Presidência ou o governo de São Paulo, correto? Pois: Kassab é, de fato, o maior vencedor dos pleitos passados, mas isso em nada aumenta as chances de seu padrinho, o governador José Serra, que, aliás, é de outro partido (o PSDB), derrotar o preferido pelo presidente Lula, do PT, da candidata massacrada no maior município do País, Marta Suplicy. Isso é cristalino como água de poço e o fato de nosso Diógenes vir a ter mais possibilidades de encontrar eleitores petistas derrotados agora comprometidos com o partido para daqui a dois anos em nada modifica o raciocínio de quem sabe que, ao contrário de peru da Ceia de Natal, em política ninguém morre na véspera. Mormente quando a véspera do federal e do estadual é o municipal.
Portanto, caro leitor, não leve em conta essa conversa furada de que as eleições municipais deste ano transformaram o PMDB no maior ator político das sucessões estaduais e federal. O PMDB saiu destas disputas do mesmo tamanho em que entrou: obeso, disforme e acéfalo. É claro que seus dirigentes, que não conseguem se entender nem sobre se a legenda será governista ou oposicionsita daqui a dois anos, tentarão tirar o máximo proveito (pessoal e grupal) dessa aritmética eleitoral farsante, que soma votos que não se somam. Ao PMDB restaram pencas de bananas nas urnas: a maçã do Paraíso federal deverá ser bicada por tucanos ou petistas.
© Jornal da Tarde, quarta-feira, 4 de novembro de 2008, p2A
Para o PMDB, só as bananas nas urnas
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