O que sei de Lula, por Roberto Romano – JP

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Quinta-feira 27 de outubro de 2011 Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp

Em “O que sei de Lula”, José Nêumanne Pinto oferece um precioso mapa da vida política brasileira. O culto votado a Lula não brota do nada, ele foi instaurado por alguém. A mística do lulismo nasce da propaganda. Ele esconde, sob a popularidade, a ruína das instituições nacionais. A propaganda já foi estigmatizada pelos mestres da ética como o método de enganar os tolos para vencer eleições políticas. Ela não é só palavra enganosa, mas gestos corporais. Muitas vezes uma piscadela demagógica engana multidões com eficácia maior do que muitos discursos.

Lula, mostra com clareza Nêumanne, é mestre na arte dos gestos, exímio nos truques da retórica. Certo caso verdadeiro, narrado em “O que sei de Lula” é eloqüente. Quando iniciou uma greve de fome contra o regime autoritário, Luis Inácio da Silva, depois de certo tempo, não mui to, sem mastigar alimentos, adquiriu umas balinhas de goma, consumidas sem que seus colegas de cela e de greve soubessem. Um companheiro escutou o ruído do papel que encobria as ditas balinhas e, seguindo o barulho, chegou a Luis Inácio. A greve de fome se desmoralizou. Por má consciência, ou má fé, pouco se divulgou do episódio entre os formadores os intelectuais que deveriam manter a fé pública e a ética acima de todos os personalismos.

O caso trazido por Nêumanne indica o perfil dos políticos que, no reino lulista, ou dele herdeiros, não prezam a ortodoxia ética. Luis Inácio abusou de outros truques, como o de proclamar nada saber sobre as estrepolias dos amigos ou subordinados. O truque principal é fingir fazer uma coisa e realizar o contrário. No escândalo do mensalão ele pediu desculpas ao povo brasileiro pelos malfeitos de sua grei. Depois abraçou os atores do mensalão, patrocinando o retorno de Delúbio Soares. Assassinado o prefeito de Campinas, o Toninho do PT, ele prometeu que providências seriam tomadas para investigar o atentado. Os familiares ainda esperam. Saga idêntica vivem os próximos de Celso Daniel, morto sem que medidas eficazes fossem tomadas pelo poder federal, que tem à sua disposição a polícia, o aparato administrativo e jurídico. Todos esses fatos são narrados por Nêumanne. Quem ler o seu livro, entenderá o que se passa no Ministério do Esporte. Ali se finge indignação, mas se adora colocar verbas públicas em mãos particulares.

Toda propaganda do nossos supostos esquerdistas tem a marca da balinha de goma: é o faz de conta, o não levar a sério o sofrimento da cidadania. Eles exigem adesão irrestrita da sociedade. Outra técnica dos antigos imaculados é atacar a imprensa. Sempre que surge um escândalo, o culpado maior são os jornalistas que estariam preparando um golpe para arrancá-los do poder. Nesta tarefa demagógica, recebem auxílio dos militant es profissionais, os que lucram com Ongs ou cargos e operam a sangria dos cofres públicos em proveito pessoal ou partidário. Foi tal gente que inventou o termo PIG, o Partido da Imprensa Golpista. O truque retórico, aqui, consiste em juntar duas figuras, a do golpe político, rematada mentira, à imagem do porco (pig, em inglês).

O truque é tiro que sai pela culatra. Golpe, dá quem se apropria de riquezas que deveriam servir para as políticas públicas, não para enriquecer companheiros. Porca é a tarefa de roubar do povo aqueles recursos, algo indigno de seres humanos. Orwell, crítico do regime totalitário e corrupto dos camaradas que mandavam no partido, tem texto chamado a “Revolução dos Bichos”. Nele, os camaradas dirigentes são os porcos. Eis a linhagem dos que, hoje, sujam palácios e partidos na tarefa indecente de vender gato por lebre, ou seja, corrupção como libertarismo esquerdista. Qual a moralidade desta fábula? Basta ab rir os jornais de hoje, caro ouvinte, para saber. Ou ler com calma o livro de Nêumanne. Com muita calma…

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