Enquanto o Metrô e o Rodoanel não são concluídos, o gestor municipal terá de encontrar meios para evitar que a lentidão do fluxo de automóveis pare de vez a cidade
Como já o foram as enchentes no passado e mais recentemente a segurança pública, o trânsito, ao que tudo indica, será o principal tema da campanha eleitoral para a sucessão municipal em São Paulo. Ainda que os alagamentos não tenham acabado de vez e a insegurança geral continue sendo um problema crônico na metrópole, não se pode negar que os gestores públicos municipais encontraram formas de amenizar o convívio do paulistano com esses antigos problemas. Agora resta a paralisação do fluxo dos automóveis.
A equação é inexorável: fabricam-se cada vez mais automíveis e são vendidos a cada dia com mais facilidades. A frota circulante cresce exponencialmente e não há como abrir vias para permitir a circulação deles. Soluções há, mas custam caro e levam muito tempo para serem concluídas. Uma delas é o metrô, que transporta multidões de forma rápida, confortável e eficiente, sendo a única modalidade de transporte coletivo que realmente funciona como alternativa ao transporte individual. Só ele consegue tirar o paulistano do comodismo do volante, oferecendo em troca mais rapidez na viagem. Outra, o Rodoanel, que, concluído, retirará os caminhões das vias urbanas, principalmente as cada vez mais congestionadas marginais dos rios Tietê e Pinheiros. Com os caminhões fora, os carros e ônibus terão mais espaço para circular e também diminuirão os acidentes que volta e meia têm paralisado a cidade.
A autoridade tem recorrido a paliativos que têm a vantagem de poderem ser implantados imediatamente e nada custam aos cofres públicos. É o caso dos corredores fixos ou flexíveis de ônibus nas principais avenidas de ligação entre bairros e centro. Mas, se de fato reduzem as viagens dos usuários de coletivos, estes corredores produzem efeitos colaterais indesejáveis para outros cidadãos: os motoristas particulares forçados a circular em menos faixas e os comerciantes das ruas escolhidas para eles.
Nas campanhas eleitorais os marqueteiros costumam aparecer com saídas mirabolantes, mas cujos efeitos são pirotecnia pura. O aerotrem do candidato folclórico, sem chance, pode até ter virado anedota, mas o fura-fila inventado pelo publicitário, deu a vitória ao candidato inventivo e furou o bolso do contribuinte, apenas para dar os dois exemplos mais óbvios e recentes desse gênero.
Enquanto o metrô e o Rodoanel continuam sendo miragens distantes, os candidatos à Prefeitura poderiam pensar seriamente em respeitar o munícipe e enfrentar o problema como deveriam. Urge elaborar um plano de construção de garagens para permitir a proibição dos estacionamentos à beira do meio-fio. É possível ainda proibir carga e descarga de mercadorias durante o dia. E também retirar de circulação veículos que não tenham condições de trafegar ou cuja documentação esteja irregular. O diabo é que, para isso, faltam coragem cívica e honestidade.
© Jornal da Tarde, terça-feira, 1º de abril de 2008, p. 15A