No Diário do Nêumanne, no Blog do Estadão: O inferno de Dilma

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Ao afastar Jucá do Ministério do Planejamento, Temer adotou atitude republicana que Dilma e o PT desprezaram

Nesta manhã fria em que a velha São Paulo da garoa, que conheci em 1970, parece voltar na roda do tempo, na minha condição de comentarista profissional, que por definição não pode ser imparcial, mas tem o dever de ofício de ser justo e equilibrado, reconheço que Michel Temer ainda não parece ter percebido que o melhor meio de manter a desastrada Dilma Rousseff fora do alcance do estopim de uma nova bomba atômica que destrua de vez nossa economia não é esmolar no Congresso a boa vontade para sua politica econômica. Mas blindar seu mandato legítimo e sua gestão competente com confiança dos mercados e do povo. Talvez tenha sido por ainda não o ter percebido que ele recriou o Ministério da Cultura, um erro. E certamente outro passo em falso, com consequências ainda mais funestas, é este de dar posse hoje a Marcelo Calero, diplomata de 33 anos, que é completamente jejuno no assunto e teve experiência profissional na CVM e na Petrobrás antes de assumir a secretaria da Cultura na administração de Eduardo Paes na Prefeitura do Rio. Imagine que sua primeira providência foi se aconselhar com Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso, que se tornou notória menos pelo marido do que por fundar e liderar uma organização criminosa chamada Procure Saber, criada para fazer lobby para manter a censura prévia de biografias e pela estatização dos direitos autorais, negando aos autores a gestão sobre seu próprio e escasso dinheirinho.

Talvez também ele devesse ter demitido sumariamente do Ministério do Planejamento o senador Romero Jucá, pilhado no grave crime de obstrução à Justiça. No entanto, seria injusto não reconhecer que, do seu jeito conciliador, talvez agradecido pela ajuda que o já ex-ministro da área econômica lhe deu no processo de impeachment e na formação do governo, ele terminou fazendo a coisa certa, pois o removeu do comando da pasta, como é recomendável, até que o assunto seja totalmente resolvido pela Justiça. Isso seria perfeito se o Supremo Tribunal Federal (STF) fizesse realmente Justiça, o que infelizmente não tem ocorrido. Enquanto Sergio Moro prende e condena na primeira instância, o STF protela tudo, merecendo o epíteto que Emanuel Bomfim, da Rádio Estadão, lhe deu de Supremo Caso Queira Federal. E completo: não atua como cúpula do Poder Judiciário, mas, sim, como um nefando e inusitado Poder Protelatório. O fato é que o vice no exercício da Presidência restabeleceu o padrão correto. Dilma delinquiu quando tentou proteger Lula de ser preso e condenado na primeira instância e até agora nenhum dos dois respondeu por isso. O professor Michel Miguel, com sua linguagem cautelosa de causídico, afastou o aliado do ministério cobrindo-o de afagos, até para não ganhar um inimigo perigoso no Senado. E quando digo perigoso é para o Brasil, não para o governo provisório. Afinal, com 14 milhões de desempregados e uma queda de 10% no PIB da reeleição pra cá, não dá para brincar com a crise que nos assola e empobrece toda a população . Parece que até Renan Boiadeiro compreendeu essa evidência.

Impressionante é que o PT que sempre execrou os “vazamentos seletivos”, festeja a crise no governo substituto como se esta não fosse, e é, sim, produto de um. Mais típico ainda do partido que está sendo apeado do poder federal em impeachment legal, e não por um golpe, é festejar a crise causada pela reunião desastrada de Jucá com Machado. A obstrução de Justiça na nomeação de Lula para a Casa Civil é do mesmo teor e ainda mais grave, já que Dilma foi protagonista dela e Michel Miguel não merece acusação idêntica no caso em tela, pelo menos até o momento. Além do mais, o novo paradigma Temer ressuscita o precedente Itamar, quando o também vice que se tornou o melhor presidente da História da República, afastou o chefe de sua Casa Civil, Henrique Hargreaves, até a Justiça o livrar de qualquer culpa em episódio jurídico em que fora denunciado. Não se conhece atitude nenhuma da afastada em relação a qualquer um de seus ministros. Aloizio Mercadante foi pilhado em suspeita de delito bem similar ao de Jucá e ela o transferiu da Casa Civil para o Ministério da Educação, muito mais pela antipatia do Padim Jararaca & Ratão do que pelas evidências no caso. José Eduardo Cardoso foi acusado de ter participado da operação “Exporta Cerveró” e até hoje advoga pra ela. E assim permaneceram intocáveis todos, incluindo o porta-voz Edinho Silva e Ricardo Berzoini, que, sempre cego a delitos cometidos por companheiros e dos quais ele também é acusado, agora enxerga evidências de golpe na conversa de Jucá com Machado, como se estes fossem os responsáveis pelo inferno de Dilma, que já se configura muito mais maligno do que o Inferno de Dante.

Não tenho bandidos de estimação e Dilma esconde suspeitos no coração. É isso que nos separa. É isso que a torna inviável e inelegível para governar um País de mais de 200 milhões de almas que não mentem nem furtam, assim que nem eu.

Publicado no Blog do Nêumanne no Estadão, terça-feira 24 de maio de 2016 – 10 horas.

http://politica.estadao.com.br/blogs/neumanne/o-dilema-de-dilma/

 

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José Nêumanne Pinto

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