No Diário do Nêumanne: Conselhos de algibeira

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Com pompa e caradura, mas sem candura

No relator do processo do impeachment dela no Senado Dilma execra os ingratos devedores de sua generosa gentileza

A ingratidão, esta pantera, como registrou o poeta Augusto dos Anjos,  é mesmo um defeito terrível. Dilminha, coitada, sua companheira inseparável, tem muitos ingratos a lamentar e uma vítima a reclamar da inimaginável ingratidão… dela. Lula, logo Lula, nunca a perdoou (nem esquecerá, pois dona Marisa não o permitirá) por não ter ela desocupado a moita, como se diz no Semiárido, só pra ele voltar ao trono em 2014, com pompa, circunstância e caradura. Depois vem a coleção particular, guardada na caixinha de mágoas dela. A senha inaugural vai pra Eduardo Cunha, que era da organização criminosa que seu padim é acusado de ter chefiado – e logo pelo ingrato a ambos Rodrigo Janot, que ela reconduziu ao cargo de procurador-geral da República e de quem ele se queixou num telefonema que tem dado muita enxaqueca a ambos. Cunha, quem diria, virou seu inimigo figadal. E por lana craprina: só porque ela, a conselho de Aloizio Mercadante Oliva e Cid Gomes – o tal que cometeu a impropriedade de xingar Teori Zavascki, que é viúvo, de “corno”; Janot, que não protagoniza capivara, de “ladrão” e Moro, o herói nacional da caça aos corruptos, de “picareta” -, apoiou Arlindo Chinaglia contra o peemedebista fluminense na eleição para a presidência da Câmara. Impeachment no dicionário da Vana Linhares é vingança de ingrato escroto. Ou seria de escroto ingrato? O penúltimo da lista foi Delcídio (teocida, assassino de Deus), por ela nomeado líder do próprio desgoverno no Senado. Quem já viu o sujeito cuspir na prebenda que recebeu, ora bolas? E acaba de chegar a vez do senador Antonio Anastasia, autor do competente relatório para a aceitação do processo do impedimento na dita Câmara Alta. Logo ele! Segundo a UOL, Dilma comentou com “interlocutores” que sempre teve uma relação “republicana” com o conterrâneo e que “Minas teve muita ajuda do governo federal”. Fica o degas aqui estarrecido. Tem como não ser republicana a relação entre um governador e o presidente da República Federativa numa democracia? Não teriam sido ambos eleitos pelo povo? O certo era Minas, Estado onde ela nasceu e que recentemente lhe deu a vitória na eleição contra o tucano Aécio Neves, antecessor do relator no governo do Estado, nunca ter ajuda do governo federal?

Dilma execra ingratos a mancheias. Foto/Divulgação Blog Estadão, Diário do Nêumanne
Dilma execra ingratos a mancheias. Foto/Divulgação Blog Estadão, Diário do Nêumanne

Pelo que entendi, Dilma quer ter, se não o monopólio, ao menos a primazia da ingratidão. Será que em algum momento, ao se preparar para defender o doutorado, que não defendeu, na Unicamp, Dilminha Tchau Querida ouviu falar da frase famosa de  Charles de Gaulle, aquele generalzão francês? Bem, a sentença, repetida aqui, pode valer pelos três lados: “A ingratidão é a maior virtude de um homem público”: ela própria, os que não são agradecidos a ela e, last but not least, Michel Temer, o mal agradecido dos mal agradecidos, aquele que quer tomar seu lugar só por ter cedido todos os votos que o PMDB lhe daria para ela ao menos chegar ao segundo turno da eleição presidencial. Nunca na História deste país uma modesta ingratidãozinha iria tão bem e seria muito útil, cívica, profícua e necessária como no governo que se prenuncia pra antes do feriado da Abolição. Ainda restamos nós, imperdoáveis ingratos que não agradecemos nem agradeceremos a imperícia incomum com que madama produziu o mais gravoso caos econômico e a mais nefasta crise política, geradas na perda total da moral e bons costumes, da História do Brasil. Certo?

José Nêumanne

http://politica.estadao.com.br/blogs/neumanne/com-pompa-circunstancia-e-caradura/

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