Chega de Lula!
Para cineasta e ex-analista do CNPq, petista “já deu o que tinha de dar”, está muito rico e agora deve submeter ao julgamento da História seu legado de recessão, desemprego e inflação
O cineasta e ex-analista do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Paulo Melo disse que “o grande esforço nacional seria no sentido de esquecer Lula, por um simples e prosaico motivo: ele já deu o que tinha a dar”. Segundo o assistente de direção do filme Menino de Engenho, de Walter Lima Jr., “bem ou mal, que a História, no seu tempo devido, o julgue, que diga realmente em que importaram para o Brasil seu poder e sua glória. Quanto à fortuna, se é o caso da financeira, essa ele já tem usufruído de há muito”. Na série Nêumanne Entrevista, publicada semanalmente neste blog, Melo afirmou ainda que, “de toda essa confusão armada pelo PT, nada indica de que Lula possa vir a fazer algo de significativo para o País, se que é verdadeiramente chegou a fazer, haja vista o legado de recessão, desemprego e inflação que ele deixou. Em causa própria, inteligente e esperto como poucos, fez até demais. Deixou até de ser uma pessoa para se tornar uma ideia”. E mais: “Nessa podridão em que está envolvida a classe política, e num país sem partidos políticos verdadeiros, o fato de ele ter cometido crimes e por eles estar cumprindo pena pouco importa, até o ajuda, pois para muitos, em especial no nosso irremediável Nordeste, ele é mesmo um preso político, quem sabe um mártir e talvez até mesmo um santo”,ponderou Melo.
Paulo Melo nasceu em João Pessoa (Paraíba), em maio de 1943. Graduado em Filosofia pela UFPB, com especialização em administração cultural pela UnB/OEA. Diretor da Divisão de Documentação e Cultura (1968-9), do Teatro Santa Roza (1970-5) e do Departamento de Assuntos Culturais/Diretoria Geral de Cultura (1975/79), órgãos da Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, diretor das quatro primeiras edições do Festival de Areia (1976-1979) e diretor da Editora da Universidade Federal da Paraíba (1979-1980). No CNPq, em Brasília, assumiu as funções de coordenador editorial (1980-6) e secretário dos Órgãos Colegiados (1991-2013), incluindo diretoria executiva (redação da ata de 364 reuniões) e conselho deliberativo (organização e secretaria executiva de 128 reuniões). Foi assessor especial da Secretaria de Cultura da Presidência da República (1990-1), gestão de Ipojuca Pontes. Participou de 11 filmes: foi assistente de direção em Menino de Engenho (1965), de Walter Lima Jr.; Onde a Terra Começa (1967), de Ruy Santos; Fogo Morto(1976), de Marcos Farias, e Soledade (1975) e Batalha de Guararapes (1977), ambos de Paulo Thiago; produtor executivo de O Homem de Areia (1980), de Vladimir Carvalho; co-roteirista e autor da pesquisa em Poética Popular (1970), de Ipojuca Pontes, e Incelência para um Trem de Ferro (1973), de Vladimir Carvalho; e diretor dos curtas-metragens Contraponto sem Música (1968), com Virgínius da Gama e Melo, Paraíba, prá seu Governo (1969), e A Última Chance (1973). Escreveu na imprensa de João Pessoa no período de 1959-1980.
Nêumanne entrevista Paulo Melo
Nêumanne – As narrativas de grandes feitos de líderes revolucionários de origem popular, das quais o senhor tem conhecimento, foram capazes de profetizar ou registrar uma história de vida como a do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que saiu da extrema miséria echegou apoder, glória e fortuna, em proporção igual ou similar à por ele atingida?
Paulo Melo – Você já imaginou o quanto se tem perdido de tempo, energia e dinheiro com essa lengalenga do PT com a inviável candidatura de seu único líder? É como se o Brasil, com seus gravíssimos problemas, não existisse, fosse uma espécie de Escandinávia. É por isso que, dias atrás, lhe disse que o grande esforço nacional seria no sentido de esquecer Lula, por um simples e prosaico motivo: ele já deu o que tinha a dar. Bem ou mal, que a História, no seu tempo devido, o julgue, que diga realmente em que importaram para o Brasil esse poder e essa glória a que você se refere. Quanto à fortuna, se é o caso da financeira, essa ele já tem usufruído de há muito. De toda essa confusão armada pelo PT, nada indica de que ele possa vir a fazer algo de significativo para o País, se que é verdadeiramente chegou a fazer, haja vista o legado de recessão, desemprego e inflação que ele deixou. Em causa própria, inteligente e esperto como poucos, fez até demais. Deixou até de ser uma pessoa para se tornar uma ideia. Para júbilo da militância. Imagine aonde chegamos! Tá difícil. Por exemplo, de suas dez perguntas, a metade diz respeito diretamente a ele. É preciso ter, então, paciência.
N – Há na História universal o caso de algum líder político, social ou empresarial que caiba de forma tão total e acabada no perfil daquilo que os burgueses chamam de self-made man capaz de se igualar ao do mesmo Lula, que foi de entregador de lavanderia a presidente da República e depois se revelou vitorioso produtor de presidentes, governadores e outros políticos poderosos?
P – É possível que essa trajetória de sucesso pessoal seja a principal responsável pela relevância que ele ainda ocupa no cenário político. Uma série de fatores convergiu para que isso acontecesse. Numa época, estou falando nos anos 1970-1980, quando ainda se considerava o proletariado o salvador coletivo, a emergência de Lula como líder sindical, em aparente oposição aos pelegos patrocinados pelo getulismo, parecia uma mão na roda. Os intelectuais orgânicos, na falta de melhor opção, trataram, então, de moldá-lo no melhor figurino de um genuíno líder esquerdista, e o fizeram a contento. Com a fundação do PT, em 1980, e transformado num político profissional, não faltou muito para que a peça esculpida assumisse vida própria e fosse pouco a pouco, bom de palco e ardiloso nas articulações como lhe é proverbial, galgando posições e se tornasse o que veio a ser. E assumiu de forma que nada é feito no PT sem o seu consentimento. Sem nenhum espírito democrático, tornou-se o partido um suserano, um absolutista, a exemplo de um Luiz XIV ou um pequeno Stalin. Para tanto, o que não é pouco, o talento e o instinto contribuíram, mas não foi o suficiente, de forma que, como tal, não foi exatamente um self-made man.
N – Em sua vida, o senhor já leu algum folheto de cordel, romance de realismo mágico, tratado de psicopatologia, poema épico, peça de teatro do absurdo, filme documentário ou de ficção ou letra canção popular ou erudita que narre a saga de um herói que ascendeu ao poder nos braços do povo, foi condenado sob acusação de ter promovido uma rapina em todos os cofres públicos de uma nação miserável, apenado e preso, mas, ainda assim, ser tido como o maior chefe político da História e liderar da cadeia as pesquisas de intenção de voto da próxima eleição direta?
P – Meu caro Nêumanne, pouca gente neste país conhece a carreira de Lula tão bem como você. Mas só para recordar, quando ele surgiu, no regime militar, já tinha o instinto e a intuição como qualidades e o poder como projeto de vida. Teve a inteligência necessária, e nem sempre o escrúpulo devido, para ir lidando com as pessoas de uma forma muito eficaz e para muitos até com certo encanto. Já no comando do PT, a candidatura ao governo de São Paulo foi apenas um exercício para o salto maior, qual seja, a Presidência da República. Na quarta tentativa conseguiu, depois de ter perdido para o Collor e duas vezes para o Fernando Henrique, que, coitado, com essas vitórias sobre o operário salvador angariou da intelectualidade, em especial, a uspiana, uma irreversível antipatia. Bem, quando o hoje milionário Lula chegou ao Planalto, explorando ao máximo as suas origens de sofrido retirante, ele já possuía uma sólida máquina de propaganda e, no exercício do poder, essa máquina não só se azeitou como se tornou imbatível e poderosa financeiramente. Isso sem contar que nos oito anos de Brasília se esmerou em procurar ser a mãe dos pobres, o pai dos ricos e o benfeitor da politicagem baixa e rasteira. Tudo isso contribuiu para que fosse criada, ao menos para aqueles tradicionais 30%, uma imagem redentora difícil de se desconstruir. E nessa podridão em que está envolvida a classe política, e num país sem partidos políticos verdadeiros, o fato de ele ter cometido crimes e por eles estar cumprindo pena pouco importa, até o ajuda, pois para muitos, em especial no nosso irremediável Nordeste, ele é mesmo um preso político, quem sabe um mártir e talvez até mesmo um santo.
N – A que tipo de messianismo, sebastianismo, fanatismo ou qualquer outro fenômeno religioso e social o senhor associa a fé cega e faca amolada com que as multidões de devotos rezam pela cartilha da fantasia insana, de tão absurda, para considerar com seriedade e sem serenidade a hipótese estapafúrdia de que Luiz Inácio Lula da Silva não é um mero criminoso condenado pela Justiça em segunda instância, mas, sim, um preso político injustiçado e perseguido pela gana de seus inimigos do status quo, que não querem permitir sua volta?
P – Quanto mais enraizada for a crença, mais difícil é sair dela e não importam as evidências, os fatos, o dado concreto e a realidade objetiva. Quando você se impregna de uma fé, cristalizada ao longo do tempo, superá-la é como se estivesse jogando fora um pedaço de sua vida, é como se reconhecesse que teria sido enganado, iludido. Se você abriu mão de muita coisa, às vezes até de sua dignidade, em favor de uma causa, por mais questionável que ela se tenha tornado, não é uma tarefa fácil abandoná-la. Supostos princípios e valores que nortearam suas convicções passaram a constituir um dom moral de que sua subjetividade não toleraria abdicar. É preciso, então, muito coragem pessoal e, sobretudo, muita honestidade intelectual. Nem todos são capazes dessa autocrítica, dessa insurgência, dessa insubmissão. Ao contrário do que Lula acabou dizer sobre o juiz Sergio Moro ser intocável, ele, sim, é que se considera como tal e mais ainda seus seguidores sobre ele. Reconhecer que Lula foi capaz das mais baixas falcatruas, para não dizer vilanias, indo de encontro a uma imagem erigida com um fervor mais que religioso, não só é uma ofensa, uma heresia, mas afeta diretamente a consciência de quem o elegeu seu guia e seu condutor. E para muitos, até mesmo de forma consciente, ainda que sem fundamento ético ou histórico, ele está acima de qualquer jurisprudência, seja ela moral, política ou jurídica. E não é à toa que ele mesmo se considera o homem mais honesto deste país. E a militância entra em êxtase, não admitindo ter sido ele condenado e estar cumprindo pena, não importando que em todo o processo tenham sido respeitadas as leis em vigor.
N – Que explicação o senhor dá, a partir de sua experiência como educador, para a vassalagem absoluta com que grandes líderes da esquerda se têm submetido ao poder mágico de Lula da Silva, desde seu surgimento, seguindo seus passos e beijando as fímbrias de suas vestes, tais como Miguel Arraes no passado e tantos outros em nossos tempos frios e secos?
P – É possível que parte dela esteja na resposta anterior. Muito embora as revoluções do século passado tenham sido deflagradas em nome e em favor dos, digamos, oprimidos, nenhum destes as liderou, à exceção talvez de Lech Walesa, em quem, aliás, Lula não só se espelhou, como esperava suplantá-lo como personalidade internacional. Desde a redemocratização não temos lideres nacionais. Para muitos, o regime militar dificultou o aparecimento deles, o que pode ser verdade, mas Lula se lançou naquele período e, para alguns, sob o patrocínio do Golbery do Couto e Silva. Como nenhum outro político alcançou a sua dimensão do ponto de vista popular, o comodismo, o paternalismo e a inércia propiciaram toda essa submissão. Quando o ex-operário do ABC conquistou o poder, o que poderia ter acontecido antes não fosse a impertinência de FHC, toda uma estrutura já estava montada para que essa nova onda nele permanecesse por décadas. Naquela ocasião, a Carta ao Povo Brasileiro foi o selo de garantia para que teórico opositor, ou seja, o capital, não fosse importunado, muito ao contrário, como se viu depois. Mas por falar em Arraes, afirmam que Pernambuco é o Estado mais lulista do País. Em compensação, não tem um escasso deputado federal numa bancada de 25 representantes. Aliás, dos 151 deputados federais do Nordeste, o PT tem 15, sendo 7 da Bahia.
N – No verão de nossas ilusões, os cidadãos – encantados com o trabalho eficiente de uma geração de policiais, procuradores e juízes federais, que rompeu o ancestral paradigma de que no Brasil o inferno prisional deve ser destinado apenas a pretos, pobres e prostitutas – ensaiaram uma reação, imaginando ser possível adotar o lema otimista “não reeleja ninguém”.Onde e por que, a seu ver, se perdeu o ânimo da massa e de alguns brasileiros bem–intencionados que prometiam sair de seus casulos para entrar no perigoso e sujo universo político, mas terminaram se protegendo de volta a suas vidas confortáveis, sem mais ambição de poder?
P — É difícil você manter e aprofundar um movimento de contestação, para não dizer de insurgência, sem uma efetiva liderança que não só imprima consistência às reivindicações e galvanize os anseios da sociedade naquele determinado contexto, como imponha respeito e credibilidade. Muito se fala dos acontecimentos de meados de 2013 aqui, no Brasil, mas tenho minhas dúvidas quanto à sua eficácia política, como, aliás, ainda hoje tenho com relação a maio de 1968, até porque De Gaulle, o grande contestado na ocasião, terminou obtendo logo em seguida uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares. O ânimo trazido pela Lava Jato tem tido algum resultado e atingido seus objetivos primordiais, mas sabemos que não o suficiente para alterar substancialmente o comportamento dos políticos e fazer com que eles tomem vergonha na cara. De todo modo, a prisão de Lula e a condenação de outros poderosos não deixam de ser um grãozinho de areia nesse enorme edifício de respeitabilidade que precisa ser construído neste país. Só que é preciso muito otimismo para acreditar que ele se erga sem ameaças de desmoronamento. Mas a respeito dessas movimentações de massa, com a licença dos mestres Cleonice e José Paulo, permita-me indicar a leitura de uma crônica de Fernando Pessoa intitulada A ilusão política das grandes manifestações populares. É uma maravilha!
N – Porque passamos pelo outono das desilusões, caímos no inverno da desesperança e hoje nos deparamos com uma disputa presidencial pela qual a população parece não se interessar mais e numa eleição para a renovação do Congresso Nacional, que é quem mandará na próxima gestão, na qual, como dizia Jânio Quadros, e agora mais radicalmente do que à época dele, as moscas mudam, mas as fezes são as mesmas?
P – Ótimo o trocadilho com as estações do ano. Mas já não poderia dizer o mesmo com essa nefasta, mas verdadeira, previsão para as próximas eleições. Penso ser difícil haver desenvolvimento com um país desunido e parece não haver nenhum candidato que possa, mesmo de longe, começar a representar a possibilidade de agregar forças para o salto de qualidade que se espera. De vez em quando penso nos tigres asiáticos e a experiência de alguns deles, em particular a da Coreia do Sul, é costumeiramente lembrada como um modelo a seguir. Tudo bem. Nos anos 1950 estava bem atrás do Brasil, hoje, muito à frente. Mas o Brasil é muito grande, muito diversificado, muito heterogêneo, muito populoso. Não é fácil administrá-lo. Aí você fala da China e até mesmo da Índia. Mas são países milenares, de fortes tradições culturais, e têm um povo acostumado a pensar coletivamente. Em geral, o brasileiro sempre espera que o Estado possa fazer alguma coisa por ele e em face desse paternalismo a tendência tem sido de acomodação. É assim desde sempre. Difícil de mudar. É por isso que costumo dizer: tem coisas que dão certo e tem coisas que não dão certo. O Brasil, desafortunadamente, está neste último caso. Paciência, mais uma vez.
N – O que ainda lhe interessa numa campanha eleitoral em que não se discutem temas como a recuperação das finanças públicas, à beira do colapso, uma política de segurança pública capaz de deter a violência desmedida do crime organizado, a continuação do combate eficaz à corrupção deslavada, desvairada e deletéria e programas que tirem saúde e educação do fundo do poço em que foram atiradas pela sequência de desgovernos sem outro compromisso que não fosse com o enriquecimento dos maganões da elite política, que age, de fato, como uma escória?
P – Num país como o nosso, em que parece que perdemos o bonde da História, os problemas básicos se impõem como absolutamente prioritários. É o que vemos na agenda dos candidatos, mas em geral com muita demagogia e muito populismo. São discursos que se repetem ad nauseam. Aí o pretenso compromisso se reveste de uma capa de cinismo que as campanhas tornamintolerável. Depois de eleitos, assumem o estelionato com o maior descaramento possível e o povo, desconsolado, arruma a viola no saco e procura se virar como pode. Muito se fala em projeto de nação.Mas qual, que cabeças pensantes poderiam ser mobilizadas para sua elaboração, quais as metas perseguidas, como avaliar sua execução e seu desempenho? Sem conferir à educação e à saúde o peso de que são merecedoras, não tem jeito, a gente não sai do lugar. E olhe que para universalizar uma educação e uma saúde de qualidade, em que todos esses novos instrumentos de informação e comunicação devam ser considerados, são necessários, no mínimo, uns 20 anos. O gapante os países que já superaram essa etapa aumenta em proporção geométrica. E aí, onde ficamos? Por falar em educação, que contribuição a universidade brasileira tem dado nesse sentido? Ideologizada como está, preocupa-se mais em garantir a hegemonia de suas correntes de pensamento do que em discutir e formular propostas que a tornem um núcleo com o qual a sociedade conte para seu aprimoramento sociocultural. Quando olho o descaso criminoso com a saúde pública, emotivo que sou, não contenho a emoção. Quando vejo o comportamento dos nossos parlamentares, democrata que sou, sofro de indignação. .
N – Durante algum tempo, ultimamente, alguns ingênuos, como este seu velho amigo, acreditaram na lorota de que bastaria uma maciça votação popular que legitimaria um presidente, congressistas e chefões partidários, aos quais entregaríamos o poder para ao menos minorarem a penúria de 26 milhões de brasileiros sem emprego digno e sem esperança. Hoje já se percebe que não existe possível deus exmachina do teatro grego, que tanto o senhor aprecia, para desatar o nó górdio que nos enforca, nem espada como a de Alexandre Magno que venha a ser capaz de decepá-lo?
P – Pois é, se não temos nem uma coisa nem outra, a quem recorrer? De que vale a legitimidade, se falta demonstração convincente de compromisso com a coisa pública, além de autoridade, competência, honestidade e firmeza de propósitos? E sobram demagogia e populismo. Isso me faz pensar na reeleição, que existe nos países democráticos e desenvolvidos. O problema é que entre nós e em parte da América Latina ela existe não como um tempo a mais para o governante poder equacionar aqueles problemas básicos, mas, sim, como projeto de poder, quase sempre com resquícios de autoritarismo. Se tivéssemos a lucidez de seguir o modelo dos EUA, com apenas dois mandatos consecutivos e depois o velho e confortável pijama, certamente não estávamos engalfinhados em discussões radicalizadas de uma nota só e, ainda por cima, desafinada, que não levam a nada, a não ser a um febril culto à personalidade, como agora estamos tristemente vivendo. E, como disse no início, o Brasil, que é bom, fica pra depois, e olhe lá.
N – O que o senhor tem dito a seus netos para prepará-los para enfrentar sem esmorecer o futuro que os espera à saída da maior crise moral, política, econômica e financeira, pela qual o avô deles ainda está passando?
P – Como não se pode nadar contra a correnteza dos smartphones, dos tablets, da internet e das redes sociais, mesmo não sendo fácil prever até onde ela vai chegar, é preciso de todo o modo que ela seja levada em conta no processo de aprendizagem. As mudanças ocorridas nos últimos anos no campo da informação eram impensáveis no final do século 20 e creio ainda não existirem as ferramentas necessárias para lidar com os efeitos que essas transformações podem causar, e têm causado, na percepção e na dinâmica do que essa nova forma de relacionamento pode produzir. Como cultivar de maneira constante e sistemática o espírito crítico nessa meninada me parece o grande desafio e as novas gerações parecem subestimar a possibilidade de orientação que velhos como nós possam ainda proporcionar nesse sentido. E eu, que não tenho celular, não estou no Facebook e em assemelhados, sou visto com um ser estranho, fora da realidade. Pois é, pode até ser.
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