Nesta Pátria Enganadora, pedalada não é drible, mas trapaça contábil
Em pouco mais de três horas, bilhões de terráqueos verão o presidente em exercício Michel Temer, no momento em que ele é a última esperança para içar o Brasil da lama apodrecida do pré-sal da ética, da política, da crise econômica e da mentira adotada como slogan de campanha e política oficial da presidente afastada. Antes disso, a tocha olímpica teve seu percurso interrompido por manifestantes contra o governo que se compromete a evitar a explosão da quebradeira empresarial e do desemprego operário. Ontem, em Brasília – depois que uma comissão de 21 senadores aprovou, por 14 votos a 5, um relatório acusando-a de ter cometido crimes de responsabilidade por fraude ao patrimônio coletivo em bilhões de reais, em parecer para votação da pronúncia que pode tirá-la definitivamente do poder –, no jogo de futebol num estádio em homenagem a Mané Garrincha, foram fotografados cartazes com “Fora Temer”. A beleza da democracia é que tudo isso acontece sem censura nem repressão num país sob cuja égide o impeachment marcha para tentar interromper o mandato de uma “desgovernanta” incapaz de uma palavra de simpatia por qualquer coisa que não lhe seja simpática nem lhe diga respeito, além de estar prestes a ver sua imagem de imaculada ser demolida por provas cabais de crimes contábeis de deixar qualquer um de cabelos em pé.
Nesta Pátria Enganadora, em que a desilusão não consegue reduzir a pó as fátuas ilusões que nos empobrecem, seguiremos adiante, de posse apenas da realidade à mão e da lucidez de quem possa distingui-la dos desvarios das utopias irrealizáveis e das fantasias incuráveis.
José Nêumanne
Sexta-feira, 5 de agosto de 2016 17 horas
Blog do Nêumanne, Política, Estadão