No Blog do Nêumanne: A novilíngua petralha

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No PT expulso do Paraíso, coletiva é sinônimo de comício e Judiciário bom é Judiciário inerte

Nem parece, mas houve tempo em que o Ministério Público era usado como “inocente inútil” por hierarcas do PT que cortejavam a imprensa para divulgar suas investigações sobre os malfeitos dos presidentes inimigos Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique. Os “procuradores federais do bem” favoritos eram Luiz Francisco, vulgo Torquemada, e Guilherme Shelb, ambos do Distrito Federal. Jornalista a serviço da causa era qualquer um que tivesse interesse em boa informação para defender os companheiros de luta da canalha corrupta. Inclusive o autor destas linhas.

Os hierarcas do PT daqueles tempos antigos eram solícitos e não deixavam pergunta sem resposta. No máximo, davam vez e voz a amigos do Ministério Público Federal de Brasília para que dessem explicações sobre a roubalheira que precisava ser extirpada da República para a felicidade do proletariado o bem geral da sociedade. Foi assim que Tancredo foi comparado com o corrupto-mor de antes, Paulo Maluf, e, por terem votado no mineiro no Colégio Eleitoral, os deputados Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes foram expulsos do Partido dos Trabalhadores (PT). Sarney foi escarnecido e execrado. Collor, deposto por impeachment com apoio unânime. Itamar, boicotado, a ponto de sua titular do Ministério da Administração Federal, a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, ser expulsa do partido. E Fernando Henrique, o tucano maldito, foi azucrinado por pedidos nunca golpistas de impeachment.

Aí, o PT chegou ao “pudê”. Torquemada, que é monoglota, foi exilado em Portugal. Shelb desapareceu na poeira do tempo. E os repórteres abelhudos, exilados dos gabinetes republicanos, expelidos do fluxo de informações privilegiadas, insultados nas redes sociais por militantes e robôs e ameaçados, de forma sutil (nem sempre). No “pudê”, o PT jogou nas profundezas do pélago paulista, onde foi tragado o helicóptero com o autor a bordo, a frase consagrada pelo nobre náufrago Ulysses Guimarães: “Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem rouba”. O cinismo chegou a tal ponto que, na posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do Supremo, ao ouvi-la da boca do decano Celso de Mello, mesmo com ar contrafeito e de poucos amigos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fingiu que “não era com ele não, violão”.

Após 13 anos, 4 meses e 12 dias de mandarinato do partido que é menos dos trabalhadores que das empreiteiras acusadas de corrupção, dos funcionários corruptos de alto escalão da administração federal, das estatais e dos bancos públicos, as antigas práticas sepultadas trocaram de nome e mudaram de valor.

Por exemplo, antigamente convocar uma entrevista coletiva significava pedir a um assessor para chamar repórteres, reunir a imprensa “escrita, falada e televisada’ para comunicar algum feito importante da grei ou da gestão. Entrevista coletiva, nunca mais! Ao longo dos anos de comando da República assaltada, os gestores petistas adaptaram-na ao hábito monárquico da “fala do trono”. E o exerceram de três formas: a convocação de rede nacional de televisão ou rádio no horário nobre para comemorar o teor nutritivo da mandioca, a capacidade tecnológica de encanar vento ou a prática de dobrar metas fixadas em zero; café da manhã com setoristas do palácio ou o recurso abusivo do marketing eleitoral para protagonizar anúncios do paraíso a custo zero. Sem respostas a dar a perguntas que não são feitas, contudo, os poderosos de plantão não se livraram da repulsa à distância. O som dos panelaços furiosos dos que foram traídos e enganados, por um milagre que os segredos da física e os limites da acústica não conseguem explicar, atingiu as alcovas do palácio com tantos decibéis que a convocação da rede para falar a ingratos incapazes de entender a generosidade dos benfeitores que os elegeram, foi substituída pela convocação de hackers amados e tuiteiros amestrados. Entrevistas, só exclusivas no sacrifício exigido da busca desinteressada de eleitores bestializados. E por coletiva passou a ser entendida qualquer plateia de repórteres ouvintes, proibidos de tossir, roncar ou fazer mungangas. No entanto, a prática do jornalismo na base de ouvir e anotar manteu – como diria a neogramática do aliado PCdoB Vanessa Graziottin –  a denominação da época em que promotores e jornalistas eram todos “boa gente”.

Exilados do poder e, com isso, tornadas desnecessárias as falas do trono, por falta de éditos a proclamar, saem da agenda. Mas não há problema. Convocam-se em seu lugar comícios reunindo prosélitos a toda prova. E como em comício só se proclama palavra de ordem, nele não se responde a perguntas de repórteres, inquéritos policiais, denúncias de promotor nem inquirições de juiz, de que instância for.

Enquanto ocorria essa revolução, o bloco dos procuradores aliados começou a minguar. Afinal, chegaram aos Ministérios Públicos estaduais e federal as evidências de miasmas, uma podridão incapaz de ser dissimulada. E aí os antigos inocentes úteis, mas não pagos, começaram a acordar para as evidências de uma desfaçatez sem limites. E, assim como agentes da Polícia Federal incapazes de entender as dificuldades da permanência na pobreza nas proximidades de tanto tinir de moedas circulando ao redor, do nada brotaram juízes jovens e mais aficionados do respeito à lei do que à disciplina ideológica.

Então, os petralhas-em-chefe passaram a recorrer à conivência dos juristas a seu dispor e estes ensinavam que no Neodireito de esquerda o Ministério Público deixou de ser parte e passou a atuar no cadafalso. Em vez de Torquemada e Shelb, os “meninos de Curitiba” Daltan Dellagnol e Roberson Pozzobon se revoltaram contra os cânones das novas tábuas da lei e ousaram usar as próprias convicções inspiradas na coleta de provas e no uso desaforado da lógica descontrolada. Aí foi um deus-nos-acuda, um verdadeiro charivari. Movidos pela busca da justiça, não importa a quem, os rapazes do Paraná e outros, em São Paulo, no Rio, no Distrito Federal e em outros pontos da República tupiniquim, perderam-se em conjecturas sobre o MP como parte e, pior ainda, parte que representa o Estado em litígios judiciais contra a palavra sacrossanta da Justiça.

Nos tribunais da inquisição petista, juiz bom é magistrado que só ouve o causídico da gente e qualquer um que assim não aja será sempre um golpista inveterado. A coisa anda em tal velocidade que estamos prestes a fazer do doutor Cristiano Zanin Martins presidente do Supremo Tribunal Federal do planeta inteiro e do nobre guerreiro do povo brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, ministro plenipotenciário de todas as indulgências plenas, sempre que for acusado de qualquer crime.

Na novilíngua do PT apeado do “pudê”, Justiça boa é não ter Justiça. E estamos conversados… Tchau e “bença”.

José Nêumanne

Jornalista, poeta e escritor

Foto divulgação.

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