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A primeira coisa que salta aos ouvidos de qualquer ouvinte de bom gosto ao ter contato com as canções de Huguinho para este CD é que ele é um autor, intérprete, arranjador e instrumentista consistente. Sua base é sólida: vem dos tempos dos Gentlemen, o conjunto (como se dizia à época, hoje se diria banda) de bailes mais competente que já houve aqui pelos lados da Parahyba do Norte, sim, sinhô! E dos tempos do raro Paêbiru. É mole ou quer mais? Ao lado de Zé Ramalho e depois o substituindo como guitarrista solo, nos Gentlemen, Huguinho ganhou prática, experiência e, sobretudo, vivência. Um artista não se faz apenas com técnica e virtuosismo (e é bom deixar claro que essas duas coisas ele exibe, e com sobras), mas principalmente comendo o pó das estradas e o usando como argamassa, o barro que serve de estofo para a vida humana. Esse barro foi amassado com sangue, suor e lágrimas e produzido a partir de sonhos alcançados ou demolidos, felicidade esfuziante ou dor pungente, bens e males espremidos pelo talento que só o artista – e mais ninguém – tem. Huguinho chega a este CD com tudo isso no acervo. E muito mais: ele não chega pedindo licença, já vem com tudo e se atira na direção da platéia com seu espírito sensível e seu coração de leão faminto, treinado nas lutas inglórias de amores conquistados ou rejeitados. Na tradição do melhor rock, ele despeja seus acordes e palavras com o vigor primevo de um primata mutante do planeta do som. É um lírico, mas não um lírico piegas do amor, do sorriso e da flor, e, sim, um bardo como aquele melhor Roberto Carlos de Se você pensa. Para dar bom dia a sua amada, ele não tem limites: transforma a lua em sol. E, como o Candeia do samba clássico gravado de forma imortal por Cartola, ele se declara perdido de si próprio, só por ter sido abandonado. Este CD não serve de trilha sonora para conversinhas descuidadas. Este CD, meu amigo leitor, foi produzido para ser ouvido com atenção, para sacudir seus ossos e manter sua alma desperta e seu coração aberto.