“Teresa, ai, Teresa, névoa de saudade, sob a luz acesa”. Diante da partida de minha amiga, mestra e gurua, nem o poeta Carlos Drummond de Andrade tem como me socorrer com seus versos dando conta da “mesma Teresa, Teresa de New York, Teresa de Moscou, Teresa de Belgrado e de Bogotá, Teresa de Londres, a mesma Teresa em Teresas muitas”. Teresa do Rio de Janeiro, onde nasceu, o conheceu e de onde veio. Mas, sobretudo, Teresa de São Paulo, onde criou os filhos, foi feliz e padeceu com eles, com o pai deles e conosco, os amigos de todos eles. Fomos mais felizes porque Teresa foi. E nunca mais seremos tão felizes como o fomos com Teresa a nos guiar com régua e compasso. Tai Sérgio Reis que não nos deixa mentir. Quanto a mim, é impensável não tê-la aqui ao lado em seu doce e implacável combate a esta minha tendência vaidosa de citar em excesso outros autores em meus textos: ela achava que eu teria os recursos que eu próprio achava não ter para substituí-los na comunicação com o leitor, para mim uma entidade vaga, para ela uma realidade palpável, ao alcance da ponta de seus dedos. Foi a maior prova de amor que ela me deu em toda a vida que compartilhamos. Agora, que Teresa não está mais aqui para delatar as pieguices perdidas nas frases, podar os adjetivos daninhos e mandar preencher as lacunas que só eram visíveis a seu espírito crítico vigoroso e generoso, parece-me uma tarefa penosa escrever sobre ela. E relembrar nossos momentos de comunhão e nosso longo e fatigante afastamento, causado, um pouco, pela necessidade que ela tinha de lutar contra a doença e, mais ainda, por seu estilo peculiar de saber amar à distância, tendo a velha amizade pousada no peito, como um camafeu fictício herdado de sua mãe, dona Júlia, ou uma palheta do violão preferido do baiano Waltinho, seu companheiro da vida inteira. Algo quase tão penoso quanto conviver com sua ausência, que cada vez mais me parece, mais que dolorosa, absurda e irreal. Quem vai me mandar a sapatilha rosa de presente de aniversário, dizendo ser um mimo de minha professora de balé? Quem me apresentará de novo seu pai espiritual, Luiz Gonzaga, me forçando a um permanente contato com a diáspora sertaneja? E seu compadre Hermeto Pascoal, com quem se identificava pelo exercício permanente das duas maiores paixões de ambos – a música e a graça? Quem vai me pedir os versos de Mané Caixa d’Água, poeta dos bares, praias e ruas de João Pessoa, para escrever o anúncio saudando a abertura da agência de um banco na capital de meu Estado natal? Quem mais faria o sucesso que ela fez provando que as formas mais simples são as que contêm a mais pura sofisticação intelectual? Quem mais, CDA? Difícil, dizer de Teresa mais do que Drummond já escreveu no poema que fez para ela: “mesma ânsia de vida entre as incertezas, a mesma comovida flecha da amizade?”
Penso nela como uma usina viva de idéias saltando a seu redor, feito duendes ternos e gaiatos. Registro também sua conexão com o inconsciente coletivo popular. Não me lembro de ter conhecido alguém que houvesse tido a sintonia que ela teve com a alma comum do povo brasileiro. E tudo isso com amor, com muito amor: ela participou da fundação do Partido dos Trabalhadores por amar o povo e venerar o trabalho. Da mesma forma, saiu do PT na hora em que seus antigos companheiros de ideais os abandonaram para se curvar aos desígnios do poder e às facilidades de fortunas construídas com o suor alheio. Como sempre soube seu amigo poeta de Itabira, ela não tinha nada de “frágil Terezinha”. Nada disso! Teresa nunca condescendeu com frescuras, fraquezas e lamúrias. Perdoe, Teresa, eu não ter sabido escrever sobre você. É que eu não sei se eu saberei escrever sem você. Deus tome conta de sua alma, como você ainda toma conta de nossos destinos inseparáveis.
Meu Primeiro Texto sem Teresa
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