2015 foi um ano farto de notícias para comentar. Nele eu vivi dois excelentes motivos de júbilo e comemoração. O primeiro, a descoberta cotidiana do convívio maravilhoso com minha mulher, a historiadeusa da Vila Buarque Isabel Pimentel de Castro Pinto, baronesa da Borborema e Madonnella de Campina Grande. O outro, a indolor e serena colocação de um stent para corrigir uma obstrução de 90% na minha artéria coronária direita. Agora estou com o coração zero bala e muita disposição para viver as delícias de um amor jovem na maturidade e as agruras de uma situação política e econômica abaixo da crítica neste país devassado pela corrupção e pelo escárnio, que exige de mim e de todos nós intensa labuta e fervor na luta.
Por tudo isso, resolvi adotar para estas festas, como lema de meus votos para os amigos, o título do artigo do colega Jorge Okubaro no caderno de Economia & Negócios do Estadão velho de guerra: “Se tudo der certo, um ano novo pouco feliz”. Que seja feliz, ainda que pouco, diriam os inconfidentes mineiros. Para tudo dar certo, é necessário que Zika Rousseff, microceLula, Cara de Cunha e Nefando Calheiros, entre outros menos poderosos, tenham em 2016 o pior ano das vidas deles. Ao mesmo tempo, que 2016 seja profícuo e de sucesso para o juiz Sérgio Moro, para agentes federais e procuradores das Operações Lava Jato e Zelotes e para todos os brasileiros decentes e democratas que querem ajudar a construir uma Pátria melhor e mais educada, embora sem moral para educar ninguém. Para tudo isso ocorrer, você e sua família precisarão voltar seu foco nestes votos com muita força e empenho. É o que Isabel e eu lhes desejamos e pedimos.
E vamos em frente que atrás virá muita gente. No mínimo, se a Datafolha estiver certa, 65% da população.
Gabriel, A Visita
O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus: este será grande, será chamado Filho do Altíssimo e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi (Lucas, 1, 30-32)
Vieste dizer que vinha o Sol
e veio o galo cantar três vezes
só para negar o Menino;
viajaste nas nuvens
para que chovesse
e uma tempestade de pó
cobriu plantas, casas e animais
com um manto seco e sinistro;
carregaste bênçãos em teu bornal
e a serpente da maldição
nelas se escondeu;
deste conta de graças
e a desgraça as acompanhou,
à sorrelfa;
contaste à Virgem
que seu Bebê obraria maravilhas
e Seus irmãos O executaram,
de tocaia;
trouxeste a boa nova
de um Pai severo
e a Mãe se derreteu
em gozo e delícia,
mas a desmancharam
em pranto e cólicas.
Ainda assim, o fogo que ateaste
fez arder a sarça
e alumiou a noite escura;
e o amor que anunciaste
deu rumo a um rebanho tresmalhado
e civilizou uma raça de bárbaros.
Volta, Arcanjo,
desce e entrega
novas propostas de paz
e cartas com letras de luz.
Canta hinos de encantar a vida
para espantar a morte
e faz brotar do imprevisto deserto
e mesmo do impossível mar,
que não virou sertão,
algo que se possa chamar de futuro.
Ilustração:
Pier Francesco Mola – Séc. XVII (detalhe)