Dona Nanita, mãe de meu pai, José de Anchieta, fazia um doce de caju escuro com uma calda espessa que matava aos bocados uma família de diabéticos. Zé Pinto, enteado dela, engendrou um método eficaz para furtar os cajus da compota sem lhe “desonerar” a calda: pescava-os com varetas de madeira, evitando que a saliva no metal azedasse o conteúdo dos potes. Minha mãe, Mundica, aprendeu a chegar ao ponto daquele maná dos deuses.
Certa feita, meu pai levou-me à lanchonete de certo Toinho, em Campina Grande, a 360 quilômetros de meu sertão de berço, para provar uma cartola, sobremesa em que o sal do queijo de manteiga e o doce da banana, ambos fritos, contrastam com a farofa de açúcar, canela e chocolate, fria e crua. Hoje degusto-a na Fina Fatia, em João Pessoa, na La Suissa, em Campina Grande, e no Leite, no Recife Velho.
Mas nem só de veneno vive a gula de um paraibano. Zezita, mãe de minha ex-mulher, Regina, prepara uma buchada de carneiro de comer de joelhos. Marisa, mãe de Magdala, minha mulher, sabe como guisar um bode. Carne de sol, só no Manoel, em Campina Grande. E não há ensopadado de caranguejo como o do Badionaldo, na Praia do Poço, em Cabedelo. Amém.
“Matando a fome de um paraibano do sertão” PREFÁCIO para o livro Culinária Regional Paraíba
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