Fretados: “factóide” com espírito de porco

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A interdição do tráfego de ônibus fretados nas ruas centrais de São Paulo lembra as peças que o ex-prefeito do Rio César Maia gostava de pregar, só que não tem graça e não é inteligente

O qüiproquó causado pela interdição da Prefeitura da Capital ao livre tráfego de ônibus fretados por particulares para irem ao centro da cidade é um exemplo atualizado daquilo que o ex-prefeito do Rio César Maia batizou de “factóide”. A ideia é mais ou menos a seguinte: quando o gestor público se sente ausente do noticiário a ponto de se arriscar a cair no ostracismo perante o seu público, deve inventar qualquer coisa, mesmo que seja uma quimera, algo inviável, contanto que leve os meios de comunicação a noticiá-la. A diferença mais importante, contudo, entre os “factóides” de César Maia, que chega a ser meio maluco de tão inteligente, e o episódio dos fretados paulistanos é que este não tem graça nem é um prodígio de inteligência, além de prejudicar a vida de muita gente que nada tem a ver com as ambições políticas do prefeito Gilberto Kassab e do secretário de Transportes, Alexandre de Moraes.
Para começo de conversa, os ônibus fretados não são o maior entrave ao fluxo no trânsito em São Paulo. Só que, de fato, representavam um problema para o tráfego localizado de algumas regiões centrais ou próximas ao centro. Como resolver esse problema? A autoridade encarregada do combate ao caos urbano deveria mandar às ruas congestionadas por culpa dos excessos dos motoristas desses tais veículos guardas devidamente autorizados a fazê-los circular e impedir que continuassem tumultuando o tráfego. Isso é lógico, mas certamente não é cômodo, entre outros motivos porque os guardas de trânsito hoje limitam-se a multar.
Na cabeça do advogado Alexandre de Moraes, que dirige o transporte na maior e mais congestionada cidade do País com a mesma qualificação que teria para chefiar a operação de subida de um foguete em Cabo Kennedy, na Flórida, faiscou, então, o lampejo genial. Para que mandar guardas organizar o trânsito se a autoridade pode simplesmente proibir que os ônibus continuem parando onde sempre pararam? A pedir um estudo técnico capaz de dar uma solução definitiva preferiu mudar o problema de lugar, como isso representasse uma solução. E com a vantagem adicional de ter um pretexto politicamente correto para tanto: por que privilegiar os fretados com passageiros de classe média, se o povão continua penando no inferno do transporte coletivo?
O inventor dos “factóides”, César Maia, não deve ser inculpado por essa peça de humor de mau gosto que a Prefeitura paulistana decidiu pregar nos usuários dessa modalidade de transportes. Se não têm competência para resolver o problema do transporte coletivo, pelo menos deveriam poupar a população de tais brincadeirinhas com espírito de porco.

© Jornal da Tarde, terça-feira, 4 de agosto de 2009, p. 2A

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José Nêumanne Pinto

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