“Eu, Zé Nêumanne, e as náuseas brasileiras”, por Fernando Coelho

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O jornalista, poeta e escritor José Nêumanne Pinto, editorialista do jornal O Estado de S.Paulo, comentarista da rádio Jovem Pan e da Tv Gazeta, temido porque destemido, é o mais incômodo critico do atual governo e dos governos em mazelas chafurdados. Ao citar-me num comentário semana passada na Pan, me obriga a continuar pensando Brasil. Eu dissera ao Nêumanne que admiro os seus comentários porque ele, perfilado com as observações de Nélson Rodrigues, todos os dias repete o óbvio mais do que ululante para os brasileiros, como consciência recorrente de que nós não podemos ficar à deriva do que acontece no país. José Nêumanne sugere, no comentário mordaz, que o PT peça punição até para o governo de Ernesto Geisel, porque se dizia naquela época, que um dos seus colaboradores, Shigeaki Ueki, o mais novo ministro de Geisel (de Minas E Energia), com 38 anos, roubava com avidez. Não poupou nem Fernando Henrique, nem Getúlio Vargas.

José Nêumane Pinto. Foto do Jornal da Gazeta
José Nêumane Pinto. Foto do Jornal da Gazeta

Encarece, óbvio, que Lula e Dilma não sejam excluídos do pacote cívico-redentor-punitivo. Impeachment com fartura. O jornalista só poupou o Regente Feijó, sacerdote católico nascido em São Paulo em 1784, importante figura política da história do Brasil. Progressista, Feijó queria a abolição do celibato, da escravatura e pedia democracia nas instituições do Estado. Ministro da Justiça em 1831, fora eleito Regente do Império em 1835. Na transformação da Regência Trina em Una. Infelizmente montou um gabinete medíocre. E passou toda a vida perturbado com a própria origem, confusa e desconhecida. O Regente acabou poupado do comentário do José Nêumanne Pinto porque naquela época não havia a Petrobras nem estes partidos políticos possuídos de interesses escusos. Estatelado com o descabimento do Brasil hoje, não me perdoo se não reclamar, às vésperas das Cinzas. Respeitável calendário da liturgia católica, e que em momentos menos confusos, o marco católico, de pré-páscoa, conduzia à reflexão interior. Mais do que nunca, é preciso reflexão a céu aberto. Depois de 5 dias parado por conta de um entusiasmo duvidoso, e até piegas, de gosto panfletário, o Brasil recessivo, parado, trágico, comido nas entranhas pela corrupção, pela mentira política e pela inversão de valores sociais, vai acordar, mais uma vez, com cólica moral. A operação Lava-jato cresce em todos os sentidos. Polvo faminto por apuração. Vai aparecer a lista de políticos envolvidos. Vai aparecer mais miséria. O juiz Joaquim Barbosa, outro de peito aberto, como se diz em minha Bahia, em bom e claro baianês, “um arrombado”, pede a punição do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardoso, por ter recebido advogados da Odebrecht em audiência. E agora, como que cara vamos encarar o começo do ano? Ou vamos deixar que o ano comece depois do São João?

Fernando Coelho, poeta e jornalista baiano

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