Quinta-feira 21 de abril de 2015.
À sombra de Goebbels
Muita gente boa e bem-intencionada tem estranhado a insistência com que repito que os desgovernos Lula e Dilma não têm inspiração marxista-leninista, socialista ou mesmo castrista e bolivariana. O assalto que arrombou os cofres da viúva sob o olhar complacente do chefão e de sua afilhada tem características meramente mafiosas, nunca ideológicas. Ele inspirou-se na Chicago da Lei Seca nos anos 30, e não nas revoluções feitas em nome do proletariado. Invoco para concluir isso a similitude do que Lula professava em seus tempos de glória na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, hoje do ABC, com fatos revelados recentemente em várias investigações policiais. No livro O que sei de Lula (Topbooks, Rio de Janeiro, 2006), reproduzi um trecho da entrevista que o então líder das greves operárias deu a Josué Machado e publicada na Playboy, na qual declarou explicitamente que seus ídolos mundiais eram Adolf Hitler e Mahatma Gandhi. Não pelo ideário nazista, esclareceu, mas por causa da firmeza (sic) com que o tirano o impôs. Ou seja, já então, o guru de Garanhuns dispôs-se a pôr em prática o lema do mago do ideário hitlerista, o padroeiro do marketing político, Josef Goebbels, segundo quem uma mentira repetida incansavelmente termina virando verdade. Esta introdução serve para explicar por que a afilhada e sucessora de Lula, a presidente Dilma Rousseff, recorre a falsas convicções para impô-las como peneiras para com elas tapar o sol dos fatos, em sua luta para livrar-se da deposição do cargo máximo da República, para o qual foi eleita, há menos de dois anos, com 54 milhões de votos. E assim manter a própria imagem limpa, garantindo um lugar fora do lixo da história, ao qual terminará sendo destinada. A ideia mater de sua defesa no processo de impeachment, que a Câmara dos Deputados acaba de autorizar o Senado Federal a abrir, é a de que é vítima de um golpe de Estado. Instalado há quatro meses, mais do que o quádruplo de idêntico processo movido em setembro de 1992 contra Fernando Collor de Mello, o procedimento contra ela tem sido, ao longo do tempo, submetido aos Poderes Legislativo e Judiciário. Portanto, não há a mínima hipótese de qualquer interrupção abrupta e autoritária da ordem constitucional vigente desde 1988. Os dois inimigos que ela escolheu a dedo para confrontar perante a opinião pública são egressos de sua grei: o presidente da Câmara e o vice dela mesma. Eduardo Cunha é acusado de vários crimes, todos eles praticados nas gestões petistas de Lula e dela. Ele só se tornou seu inimigo quando, atendendo à orientação sempre pouco inteligente de seu espírito santo de orelha, Aloizio Mercadante Oliva, e do anspeçada deste, Cid Gomes, lançou Arlindo Chinaglia como candidato alternativo às pretensões do deputado do PMDB fluminense à presidência da Câmara. Dilma perdeu a eleição e ganhou um inimigo figadal, que passou a agir abertamente para atrapalhar os planos de sobrevivência a qualquer custo da chefona. Nada mais natural seria que ele aceitasse e acelerasse (e fê-lo o quanto pôde) a abertura do impeachment, requisitada por um fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), o promotor Hélio Bicudo, pelo ex-ministro de Justiça (do tucano Fernando Henrique) Miguel Reale Junior, filho de um ilustre jurista, filósofo e professor de mesmo nome, e pela professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Janaína Paschoal. Acatado o pedido, Dilma solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que este mudasse as regras do jogo disputado na Câmara na composição da comissão especial instalada para encaminhar o relatório a ser votado da eventual autorização para instauração do processo no Senado. Por obra e graça do benevolente voto do ministro Luís Roberto Barroso, a petição foi aceita e a comissão, composta por membros indicados por líderes das bancadas, a grande maioria dos quais tida como fiel ao governo. O relatório, da lavra de um deputado governista, foi aprovado por 38 a 27 deputados, ou seja, com expressiva margem a favor. O plenário da Câmara, no qual, em teoria, ela dispunha de ampla maioria, lhe deu surra ainda maior ao aprová-lo pelos dois terços regimentais mais 25 votos: 367 a favor, 137 contra, 7 abstenções e 2 ausências num total de 513 aptos a votar. Todo esse processo foi acompanhado e permitido pela última instância da Justiça, apesar de insistentes tentativas de obstruí-lo feitas pelo titular da Advocacia-Geral da União, que age como causídico particular de madama, José Eduardo Cardozo, por quase todos os ministros do STF: dos 11, 8 foram nomeados por Dilma e por Lula. Na votação que garantiu a sessão histórica de domingo 17 de abril, 8 a contrariaram e apenas 2 atenderam a seus apelos de anulação. Ainda assim, Dilma embarcou hoje para Nova York para, desafiando a lógica e demonstrando insanidade mental, vender o peixe podre do golpismo dos adversários, apoiada apenas por fervorosos e inarredáveis militantes petistas e esquerdistas, que não percebem o mal que ela e seu padrinho fazem aos ideais deles, se é que eles realmente acreditam nestes. Com isso, a “presidenta” contraria a semântica, pois não há golpe que não seja súbito e sempre será mais bem-sucedido o que surpreender. Ela também confronta dois Poderes republicanos, contraria 61% dos brasileiros e, segundo três ministros do STF, erra. Celso de Mello, o mais antigo na Casa, definiu sua atitude como “gravíssima”, superlativo adequado. Dias Toffoli, ex-advogado do PT e antecessor de Cardozo na AGU, comentou que ela afronta as instituições democráticas. Gilmar Mendes declarou publicamente que todo o quadro está dentro da normalidade institucional. Ainda assim, ela repete exaustiva e cada vez mais desesperadamente que tudo não passa de um golpe de Cunha por vingança para promover eleição indireta e trair a maioria do eleitorado nacional para levar ao poder o segundo vilão, seu vice, Michel Temer. Neste dia, dedicado à memória de Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira e protomártir da Independência, Dilma também investe contra a lógica ao chamar o provável sucessor de traidor e ilegítimo. Ela não estava sozinha na chapa, que obteve 54 milhões de votos, 3 milhões a mais do que o vencido adversário tucano, Aécio Neves. Conclusões óbvias do fato: estes votos também o são dele. São porque a Constituição assim o determina. E são porque sem o apoio do PMDB ela não teria colhido esse triunfo. A chefona do desgoverno também joga o legado da lógica de Aristóteles no esgoto ao deixar de considerar fatos que não podem escapar a quem ouve seus mantras histéricos e repetitivos. A presidente viajou e, ao voltar, assumirá de volta seu posto, por ora ocupado interinamente pelo vice, que ela acusa de usurpador. Nem sequer há uma garrucha apontada contra ela. E, para concluir, em matéria de traição, Temer jamais a superaria. Dilma traiu o eleitorado contando uma história de carochinha de sucesso, fortuna e conforto e, depois, entregou à Nação depauperada uma dura realidade de dolorosa escassez: temos hoje 10 milhões de trabalhadores desocupados, um índice de desemprego de dois dígitos produzido por quem tinha prometido, meses antes, pleno emprego. Neste momento, ela trai ainda o Brasil, ao vender nos Estados Unidos a imagem de uma republiqueta de bananas, governada por baionetas. Este é o crime mais grave do qual ela pode ser acusada até agora. Mas não será o único. A revista IstoÉ circula neste feriado nas bancas com a informação de que Danielle Fonteles, dona da agência de publicidade Pepper, delatou o “maçaneta” de Dilma Giles Azevedo, que a teria ensinado formas de empregar dinheiro de propina na campanha presidencial de 2014. Enquanto isso, os jornais informam que o STF mandou adicionar à Operação Lava Jato, que investiga a roubalheira na Petrobrás e em outras estatais, informações dadas pelo senador Delcídio do Amaral, que, aliás, foi líder de seu desgoverno, sobre a participação dela, de Lula e de Temer no assalto geral que empobreceu a Nação. Não é pouca coisa. E tudo isso é coerente com Goebbels e, portanto, com Hitler. E também com Al Capone. Tem mais: a santa padroeira da luz e da Bolsa Família, e, portanto, dos pobres, passou 2015 inteiro defendendo empreiteiras acusadas de corrupção tanto em seus discursos tatibitates quanto em atos administrativos. O jurista Modesto Carvalhosa criticou, em artigos aqui, no Estadão, as portarias e Medidas Provisórias em que ela tentou livrar a cara de acusados de pagar propinas para alimentar o butim da organização criminosa que instrumentalizou, aparelhou e assaltou a máquina pública brasileira, sem que as retinas cegas e os tímpanos moucos dela e de Lula o percebessem.
Jornalista, poeta e escritor