O marchante Joesley Batista estar solto, com a família em Nova York, enquanto outros acusados nos mesmos processos a que ele responde, é tão absurdo que pode ser caracterizado como abuso de autoridade de quem lhe concedeu essa condição. Uma das poucas verdades que o presidente Temer disse ao tentar, de forma pouco convincente, negar os fatos narrados na delação do dono da JBS foi que ele é um falastrão. Comprova-o a afirmação que o próprio Joesley fez de que blefou ao dizer que teria comprado dois juízes. É um crime que põe em dúvida tudo o que não for comprovado nas delações dele e de seus funcionários e que também poderia servir de motivo para cancelar o acordo. Explica, Janot!
(Comentário no Jornal Eldorado da Rádio Eldorado – FM 107,3 – na segunda-feira 22 de maio de 2017, às 7h30mm)
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Abaixo, o poema José, de e com Carlos Drummond de Andrade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
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