Quem vai pro hospício?
Leio que líderes governistas foram ao Palácio do Planalto na manhã de hoje e saíram de lá relatando a tranquilidade absoluta de Dilma, após ter levado, ontem à noite, uma das maiores surras jamais aplicadas, e de forma exemplarmente humilhante, num presidente na História da República em todos os tempos. Algo só comparável ao episódio anterior de impeachment, o de Collor, em 1992. E mais: que ela e eles contam com a reversão no Senado dessa prova de desprestígio, impopularidade e força na luta política, quantificada na votação da autorização da Câmara para a abertura do processo que julga pedido feito por Hélio Bicudo, Miguel Reale Junior e Janaína Paschoal. Na luta preliminar tudo foi derrota. Com os votos vencidos isolados de Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello, o Supremo Tribunal Federal (STF) recusou liminar solicitada pelo causídico particular de madama (vulgo AGU), José Eduardo Cardozo, autorizando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a realizar e presidir a votação nos termos que este pretendia, pelo elástico placar de 8 a 2, maior até do que os 7 a 1 da Alemanha no Mineirão contra a seleção brasileira na Copa de 2014. Aberta a sessão, constatou-se a segunda derrota da dupla trapalhona Jararaca & Ratinha, que, convicta de que não teria como enfrentar o massacre oposicionista no voto, apelou para comprar a ausência, como Collor havia feito em vão. Ao abrir a sessão, Cunha, contudo, constatou presença maciça de deputados federais. Só faltaram dois. O crime pregado pelos governistas de impedir representantes de representarem a cidadania malogrou: só uma ausência foi registrada por causa disso. A outra foi a de um deputado na UTI. À UTI, aliás, chegou o desgoverno Dilma, com o resultado final do embate: de 511 votantes, 367 foram a favor do impeachment, 2,8 por 1, 25 a mais do que os necessários 342 e 230 a mais do que os 137 que votaram contra. Mais 7 abstenções e as 2 citadas ausências, no fim, a colheita da decantada lábia do ex-presidente e padrinho da “presidenta” reduziu-se a 146 votos subtraídos ao tsunami que jogou o segundo mandato da petista em seu 16º mês na praia do desespero e da agonia. O falso otimismo exibido pelos presentes ao velório hoje corresponde ao tom arrogante, autoritário e confiante do porta-voz, a quem a “presidenta” recorreu para evitar mais uma vez um panelaço monumental, que na noite de ontem seria repetido nas ruas invadidas por uma multidão eufórica com a passagem pelo primeiro estágio da deposição da chefona do desgoverno. Mas, pasme, as alegres carpideiras garantiram que o Senado nem sequer a afastará para ser julgada, morando no Palácio da Alvorada, mas fora do gabinete do poder no Planalto. Para tanto, Dilma, Capitão Cueca, Humberto Fala-Fina, Jandira Feghali et caterva contam com a pressão do povo nas ruas. Reproduzo só pra ver se você acredita, pois eu mesmo não acredito. Esta está difícil de entender e engolir. Afinal, milhões têm ido às ruas para confirmar a frase de Ibsen Pinheiro, que presidiu a Câmara no impeachment de 24 anos atrás: “O que o povo quer, esta Casa acaba querendo”. Este é o enigma da esfinge Brasil, que Dilma e seus capangas não parecem ter capacidade para decifrar. O lado para o qual o povo pressiona parece-me ser exatamente o oposto do outro com o qual eles contam. É caso de internação, já. Pra mim ou pra eles. Topo submeter-me a uma junta psiquiátrica para saber quem vai pro hospício.