APRESENTAÇÃO
Conheço José Nêumanne desde os tempos em que tínhamos poucos anos e muitíssimos sonhos. Pernambucano de nascimento e infância, adolesci na Paraíba, em pleno fervor cultural dos anos 1960. Foi nessa época que vi Nêumanne pela primeira vez, vindo de Uiraúna via Campina Grande, ar maroto de quem recém escapara do Seminário, tendo nas mãos as chaves de todos os prazeres do mundo – principalmente as da poesia, a grande sedutora dos jovens daquele tempo. Embora já encaminhados para a música (eu) e para o jornalismo (ele), tínhamos em comum a paixão pela palavra poética, o que fazia com que minha casa, em Tambiá, fosse também freqüentada por João Cabral, Bandeira, Baudelaire, Augusto dos Anjos, Lorca Mallarmé e muitos outros mestres, soberanos de nossos corações e mentes. A poesia também nos acendeu muitas outras paixões: com ela, fustigamos tiranos, derrubamos incontáveis governos, descobrimos o cinema e a boemia, Joyce e a literatura de cordel, Stockhausen e os repentistas nordestinos, Pixinguinha e todos os batutas da MPB – ou seja, as obas coisas que estavam no mundo e que nós precisávamos aprender, como diria Paulinho da Viola. Tudo isso a poesia nos ensinou, pois, como toda sedutora, ela foi também uma grande mestra.
Agora, com o CD As Fugas do Sol, que a Gravadora CP-UMES orgulha-se em lançar, Nêumanne apresenta parte da poesia que produziu ao longo destes trinta (e rápidos!) últimos anos. Bom aluno, ao deixar-se seduzir pela mestra, dela reteve todos os segredos, daí tornando-se, ele próprio, um dos expoentes da poesia brasileira atual. Tive a sorte e a felicidade de ser chamado para trabalhar com ele, na arriscada tarefa de agregar sons às suas palavras e idéias – pelo que ganhei mais uma oportunidade para confirmar a excelência de sua criação poética, tão elegante quanto irreverente, tão inteligente quanto sensível. Longe de ser “fundo musical” ou mera sonoplastia, as intervenções sonoras aqui utilizadas pretendem inserir-se no próprio diálogo poético, interagindo com o discurso verbal, comentando-o por vezes e a ele agregando novas possíveis referências ou significados. No entanto, mais que apontar para o diálogo entre poesia/música, este CD me faz mesmo é a reacender a lembrança da velha casa de Tambiá, onde muitas vezes recebi o filho de “seu” Anchieta Pinto e Dona Mundica, o adolescente de ontem e o poeta de hoje José Nêumanne Pinto, com quem, num passado assim não tão remoto, teci inumeráveis sonhos – e não seria este CD um deles?
MARCUS VINÍCIUS DE ANDRADE
Diretor-Artístico da Gravadora CPC-UMES
POEMAS
01. DISCURSO
02. O ENCONTRO DE CRISTINO COM VIRGOLINO NA VIOLA DE SEU RAIMUNDO
03. DESAFIO DE VIOLA REPENTINA E GUITARRA CÉTICA
04. TRÍPTICO MARINHO
05. POEMINHA
06. VAMOS BEBER A TARDE?
07. ÔMEGA
08. FUGA DE BAQUE
09. TECHNICOLOR
10. NA CASA AVOENGA
11. SERESTA SERTANEJA
12. A SEARA DE SARAMAGO
13. BARCELONA III
14. BARCELONA VI
15. BARCELONA XVII
16. BARCELONA XIX
17. ,
18. BORBOREMA 9
19. BORBOREMA 10
20. BORBOREMA 12
21. BORBOREMA 13
22. BORBOREMA 23
23. BORBOREMA 24
24. BORBOREMA 25
25. LUA NO LAGO
26. MADEIRO
27. DECOMPOSIÇÃO DA FOLHA
28. GARATUJAS DE BAR
29. POEIRA DE ESTRELAS
30 BYE
CRÉDITOS
Direção Artística e de produção:
MARCUS VINÍCIUS DE ANDRADE
Gravação digital:
ESTÚDIO SPALLA
Técnicos de gravação, mixagem e masterização:
SÉRGIO S. JOVINE e CARLOS GUEDES
Fotos de projeto gráfico:
GAL OPPIDO
Desenvolvimento gráfico:
HELENICE DIAMANTE