Em vez de Marighella, que nunca lutou pela Pátria nem se armou para defender a democracia, herói foi o capitão Sérgio “Macaco”, que não explodiu o Gasômetro do Rio, como o chefe mandou
Anteontem foi perpetrada uma das maiores injustiças provocadas por hipocrisia oportunista, cegueira ideológica, mistificação política e arrogância dos grupos que estão no poder e“nunca antes cometidas na História deste País”, como diria o líder deles, Luiz Inácio Lula da Silva, em suas arengas. Na ocasião da comemoração do centenário de nascimento do militante comunista Carlos Marighella, sua família recebeu, em Salvador, cidade natal do ex-líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), pedido formal de desculpas do Estado brasileiro pela perseguição política de que ele teria sido, segundo a versão oficial, vítima ao longo de toda a sua vida.
O que há de verdadeiro e nobre nesta atitude é residual. Marighella teve seu mandato de deputado federal cassado no regime liberal sob a vigência da Constituição de 1946 porque a legenda pela qual fora eleito, a do Partido Comunista Brasileiro (PCB), havia sido extinta. Pode-se argumentar, e com razão, que o pretexto para jogar o “Partidão” na clandestinidade foi mesquinho: o chefão comunista, Luiz Carlos Prestes, foi ambíguo ao responder se lutaria pelo Brasil numa guerra eventual contra a União Soviética e isso valeu o registro do PCB. Mas é preciso entender que, naqueles anos 40, o Brasil vivia a aurora de uma nova democracia e a pátria do socialismo internacional era submetida a uma das mais bárbaras ditaduras da história e ao tacão de um tirano que se tornaria conhecido, depois da morte, como um dos maiores assassinos do século – Josef Stalin. Reza a lenda que Marighella chorou quando foi informado disso.
Em pleno regime militar brasileiro, quando a União Soviética ainda estava submetida à “ditadura do proletariado”, Marighella rompeu com a linha “revisionista” da Internacional Comunista, vassala dos interesses geopolíticos de Moscou, e aderiu às teses “foquistas” dos barbudos de Sierra Maestra, em Cuba, que derrubaram a ditadura de Batista para instalar a de Fidel Castro. Portanto, ele lutou, sim, contra a ditadura militar brasileira, mas não pela democracia, e sim por outra tirania.
Marighella nunca empunhou uma arma em defesa da Pátria: é herói, então, de quê? Enfrentou, armado, a ditadura direitista para implantar outra, de esquerda, não sendo, pois, mártir da democracia. A Comissão de Anistia do governo federal do PT promove uma retaliação histórica pelo método stalinista de reescrever a história. A homenagem a Marighella dá uma má ideia do tipo de “verdade” que a comissão de Dilma persegue. Se busca um herói, sugiro o capitão aviador Sérgio “Macaco”, que desafiou a hierarquia militar, negando-se, em 1968, a explodir o Gasômetro do Rio, como mandou o brigadeiro João P. Burnier.
(Publicado na Pág. 02ª do Jornal da Tarde da quarta-feira 7 de dezembro de 2011)