Mesmo já havendo sido presidida por um brasileiro, a Fifa, dona da festa, pode ser obrigada a marcar jogos da Copa de 2014 para estádios caindo aos pedaços, por incúria e desinformação
A pátria de chuteiras curvou-se, reverente, à grande conquista: em 2014, ou seja, daqui a quatro anos, a Copa do Mundo de futebol profissional será jogada na terra dos craques, aqui onde se joga o melhor ludopédio do universo. Nem o Conde Afonso Celso, patrono do ufanismo nacional, encontraria tantos adjetivos bombásticos e elogiosos para celebrar o grande feito do Brasil. Preocupada em festejar e, sobretudo, em encher as urnas com votos nos candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT), de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é filiado, e dos aliados na tarefa ingente da “governabilidade”, a autoridade pública não cuidou do chamado “dever de casa”. Se o governo federal teve a cara-dura de lançar o Projeto de Aceleração do Crescimento – PAC – número 2, sem ter sequer dado início às obras previstas no primeiro, por que se dedicaria à árdua tarefa desagradável de cuidar da infra-estrutura do torneio?
Havia um trem-bala projetado para levar torcedores do Aeroporto de Guarulhos para os campos de jogos de São Paulo, não havia? Onde foi parar? Como uma bala perdida, o comboio não parou nas estações fictícias e se desmanchou no ar, como ocorre até com o que é sólido, como constatou o filósofo comunista Karl Marx. A estrada de ferro levaria seis anos para ser construída e só faltam quatro para o Campeonato do Mundo ser jogado no Brasil, correto? Pois é! Quem vai lutar contra o tempo? E há, também, uma lógica ineludível na decisão de cancelar a composição ferroviária de alta velocidade: sem aeroportos em condições de funcionar a contento par um evento desse porte, por que, então, investir num meio de transportes para levar e trazer os torcedores da e à porta do avião?
Lambanças assim não são raras entre nós. Mas nunca antes na história deste país se chegou a um vexame internacional desse quilate. Houve quem publicasse que a Fifa, dona da festança, teria um “plano B”, ou seja, algum país preparado para sediar a disputa, que promove grande movimentação financeira, na hipótese de o Brasil não conseguir cumprir o que foi acertado. Não deve ser verdade. Tudo indica que não há muitos países pelo mundo afora tão interessados assim na subida honra. Tanto que ninguém disputou o privilégio com o Brasil. Apesar de já haver sido presidida por um brasileiro, João Havelange, a Fifa parece não conhecer a velha mania nacional de deixar tudo para a última hora, pois, afinal, “o que não tem remédio remediado está”. Por falta de informação ou de juízo, a entidade corre o risco de marcar os jogos para os estádios caindo aos pedaços disponíveis aqui.
É bom o Comitê Olímpico Internacional (COI) por as barbas de molho em relação a 2016 no Rio.