Em entrevista aos jornais do Grupo Estado neste domingo, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin disse que em seu eventual futuro governo o programa Bolsa Família deixará de ser o que é hoje – uma “porta de entrada”- e passará também a ser uma “porta de saída”. Em “tucanês”, isso significa que o governo continuará dando esmolas aos miseráveis, mas também lhes criará oportunidades de trabalho. Usando o velho exemplo do chinês que prefere ensinar o pobre a pescar a dar-lhe peixes, isso significa que o grupo hoje na oposição garante que entregará o peixe e também ministrará os segredos da pescaria a quem não tem sequer um pedaço de pão.
Muito bonito, mas parece insuficiente. Mais que insuficiente, ínfimo. Ninguém precisa ser escolado nas malandragens da política brasileira para saber que a Bolsa Família não passa de um excepcional golpe eleitoral. Os pobres das famílias que sacam com seu cartão magnético R$ 40,00 por mês sem contrapartida alguma sabem muito bem identificar quem lhes dá essa esmola e qual a melhor forma de pagá-la. Trata-se da mais antiga solução mais antiga assistencialista do mundo – a questão do croissant de Maria Antonieta: “seu voto por um prato de comida”. A receita sempre funcionou no Brasil dos coronéis e continua vigendo sob o “neocoronelismo”petista,
Imaginar, como imagina o tucanoto, que pode enfrentar a mais elementar das barganhas – “mato sua fome e você vota em mim” –, prometendo complementar a esmola com uma oferta de emprego difícil de cumprir, é um engano mais que ledo, vão. Não vai ser com esse discurso que o foguete de Alckmin vai decolar.
©Jornal da Tarde, terça-feira, 2 de maio de 2006.