No último dia vinte e dois, a Casa de Coriolano de Medeiros abriu suas portas para receber um novo membro para ocupar a cadeira número um, cujo patrono é Augusto dos Anjos. Desta feita, malgrado a saudade de quem partiu, a alegria reinou em torno do candidato vencedor: José Nêumanne Pinto.
Amigo de velhos tempos, quando de minha atuação na Fundação Casa de José Américo e participávamos das homenagens ao centenário do patrono, na capital de São Paulo, logo surgiu Nêumanne que, residindo naquela grande cidade, quis se associar às comemorações ao grande paraibano, de quem merecera a amizade. A partir de então, o menino de Uiraúna entrava em sena e colaborava sempre conosco, com as várias habilidades ditadas por seu talento.
Falar sobre sua obra, constituída por dez títulos, torna-se imprescindível citar algumas pelo valor e pela forma como foram apresentados, variando entre prosa e poesia, além da grande participação do autor como jornalista, atuando na mídia escrita, falada.e televisiva.
Como sua amiga e leitora assídua, observo que o renomado escritor costuma costurar seus versos à narrativas de outro tom. Uma dimensão desafiadora como falou na obra Solos do Silêncio, outro grande escritor paraibano Bráulio Tavares: “Os poemas de Nèumanne acabaram mostrando agora, décadas depois, vislumbres que foram vetados pelos estatutos severos do jornalismo, mas que estavam todos lá, vivos, visíveis e principalmente audíveis, ao longo dos “bacuraus” em frente ao Cine Capitólio ou nas escadarias noturnas do Colégio Estadual da Prata”.
Levado pelas trilhas poéticas o autor fala sobre seu desempenho estético: “O poeta não afaga com a mão paternalista a própria cabeça: ele dá no menino que foi uns leves cascudos e puxões de orelha, brincalhão, provocativo, como um pai cutucando um filho travesso. Fala de si mesmo, de seus heróis roqueiros ou jagunços de seus porres e suas encrencas”.
Em meio às palavras pungentes, surge o memorialista de Barcelona Borborema brincando com duas cidades tão diferentes quanto a distância que as separa. Ali, segundo o crítico Carlos Felipe Moisés: “… o poeta paraibano não regateia nem disfarça a forte emoção que nele desperta, por exemplo, a Barcelona do Arquiteto Antoni Gaudi, (…) Mas, essa estesia apaixonada encobre um vínculo de outra espécie, que une o poeta não à cidade de eleição, mas, a cidade natal”.
Como consultor político, trabalhando no Congresso Nacional, o jornalista José Nêumanne observou de um lugar privilegiado o desenrolar da República no Governo Collor e logo fez surgir seu relato imparcial e independente, sob o título A República na Lama (… ) outro grande sucesso em sua bibliografia.
Voltando ao romance, em 2004, José Nêumanne nos apresentou o excelente O Silencio do Delator que, com muito sucesso, foi lançado em diversas cidades do Brasil, tendo merecido vários prêmios, inclusive o intitulado Senador José Ermírio de Morais da Academia Brasileira de Letras, quando o autor recebeu elogios na palavra do Acadêmico Marcos Vilaça, que assim definiu o acontecimento: “…A tradição desta casa não é feita de ancoragem de horas, mas da libertação da palavra (…) Temos a assimetria da existência, mas sem falhar na missão histórica.(…) A imortalidade que existe aqui é a da palavra. Hoje premiamos a palavra de José Nêumanne e cuidamos em honrar a memória de José Ermírio de Moraes, um homem de palavra.”
Ao lado da brilhante competência, aqui constatada, está a simpatia do autor que, naquela manhã, permaneceu entre os imortais paraibanos, degustando da alegria que reinava no ambiente, culminando nos aplausos pela sua esplendorosa vitória.
Parabéns, Nêumanne! Você merece.
(*) A professora Adylla Rabello faz parte da Academia Paraibana de Letras (Cadeira 02, Arruda Câmara). Crônica publicada na revista A Semana, de seu filho Neno Rabello.