“A serviço da informação”, por José Nêumanne

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Na ditadura militar, a inteligência das Forças Armadas tinha péssima reputação: além de delatar os membros dos grupos armados de extrema esquerda, não o fazia com muita eficácia. Pois dependia da tortura física e psíquica. Extinto o regime, instituído o Estado Democrático de Direito com a eleição do primeiro civil para presidente, a posse do vice deste e, enfim, o primeiro escolhido por voto direto, a reação foi previsível, mas estúpida. Fernando Collor extinguiu o Serviço Nacional de Informações (SNI), negando ao centro do poder uma instituição encarregada de fornecer informações. O “monstro”, assim definido por seu presumido criador, o general Golbery do Couto e Silva, sobreviveu na democracia como um serviço de vampiros que, a soldo sujo de poderosos do novo regime ou candidatos ao poder, fornecem dossiês para a indústria da calúnia, que produziu entre fatos vergonhosos o episódio grotesco dos “aloprados” da eleições estadual paulista de 2006. Da retaliação inicial brotou, pela necessidade de manter o chefe do Poder Executivo informado, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que substituiu truculência por preguiça. E trouxe o efeito colateral da ilegalidade cínica e safada. Em luta para se manterem no poder, grupos encastelados no palácio presidencial passaram a ser usados para alimentar um estado policial clandestino que tornaria ilegais operações da Polícia Federal, parceira forçada dos “arapongas”, como a Satiagraha, na qual as relações entre o chefe da “arapongagem” institucionalizada, Paulo Lacerda, e o delegado federal Protógenes Queiroz tornaram ilegal, em nome da ideologia de ambos, uma investigação criminal. Com autoridade de quem viveu no ventre do “monstrinho”, o tenente coronel André caixapretaSoares tem contribuído para trazer ao conhecimento do público, que paga a conta e tem a privacidade invadida pelos aleijões do sistema, tudo o que a sociedade precisa saber sobre a versão democratizada (e tornada à força socialista nos últimos 12 anos) do Leviatã secreto da ditadura. Em documentos entregues aos mandatários e entrevistas esclarecedoras nos meios de comunicação, este especialista em inteligência (um dos poucos que podem se dizer assim sem contestação) faz o que pode para definir a coleta de informações para o exercício do poder como algo digno da função no âmbito da democracia. Nesta “mistureba” abjeta entre Estado, partido político e quadrilha, ocorrida no Brasil ultimamente, o esforço do autor deste livro para debater o exercício de informar os poderosos, aprimorando-o e escoimando-o da manipulação sabuja e criminosa de seu uso indevido, é respeitável e essencial. E este livro, que o expõe com lucidez e clareza, é fundamental para que haja mais transparência sobre o uso do ofício que deveria servir aos cidadãos, e não expô-lo aos malfeitos de quem abusa do poder para torna-los vassalos.

(José Nêumanne: jornalista, poeta e escritor).

Lançamento Escrituras.

Imagens/Divulgação FB

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